domingo, 25 de outubro de 2009

Uma questão de ética


Ele tinha onze anos e, a cada oportunidade que surgia, ia pescar no cais próximo do chalé da família, numa ilha quem ficava no meio do lago.
A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas pai e filho saíram no fim da tarde para pegar apenas peixes cuja captura estava autorizada.
O menino amarrou uma isca e começou a praticar arremessos, provocando ondulações coloridas na água.
Logo. Elas se tornaram prateadas pelo efeito da lua nascendo sobre o lago.
Quando o caniço envergou, ele soube que havia algo enorme do outro lado da linha.
O pai olhava com admiração, enquanto o garoto habilmente, e com muito cuidado, erguia o peixe exausto da água.
Era o maior que já tinha visto, porém sua pesca só era permitida na temporada.
O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras movendo para trás e para frente.
O pai, então, acendeu um fósforo e olhou para o relógio.
Pouco mais de dez da noite...
Ainda faltavam quase duas horas para abertura da temporada.
Em seguida, olhou para o peixe e depois para o menino, dizendo:
_ Tens de devolvê-lo, filho!
- Mas, pai, reclamou o menino.
- Vai aparecer outro insistiu o pai.
- Não tão grande quanto este, choramingou a criança.
O garoto olhou à volta do lago.
Não havia outros pescadores ou embarcações à vista.
Voltou novamente o olhar para o pai.
Mesmo sem ninguém por perto, sabia, pela firmeza da sua voz, que a decisão era inegociável.
Devagar, tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu à água escura.
O peixe movimentou-se rapidamente o corpo e desapareceu.
Naquele, momento, o menino teve a ccerteza de que jamais pegaria um peixe tão grande quanto aquele.
Isto aconteceu há trinta e quatro anos,
Hoje, o garoto é um arquiteto bem sucedido.
O chalé continua lá, na ilha no meio do lago, e ele leva seus filhos para pescar no mesmo cais.
Sua intuição estava correta.
Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite.
Porém, sempre vê o mesmo peixe todas as vezes que depara com uma questão ética.
Porque, como o pai lhe ensinou, a ética é simplesmente uma questão de CERTO e ERRADO.
Agir corretamente, quando se está sendo observado, é uma coisa.
A ética, porém, está em agir corretamente, quando ninguém está vendo.
Essa conduta só é possível quando, desde criança, aprende-se a devolver o PEIXE À ÁGUA.


2 comentários:

  1. adorei seu texto net,
    e é verdade, na maioria das vezs só respeitamos e de algum modo estamos sendo observados,
    vejo muito isso no transito, as pessoas so usam cinto de tiver patrulha, so andam na velocidade se tiver pardal e so param no sinal se tiver gente em volta....
    assim fica complicado tentar ensinar ética, já que a sociedade nao segue exemplos como o deste pai!
    bjao...e adorei seu blog

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  2. Nete, que texto perfeito! Ética se aprende de berço e pela falta dela temos tantos desvios que se refletem em todas as partes da sociedade. Parabéns pela escolha!

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